Contato com a natureza é estratégia para saúde mental dos jovens

Os jovens são uma parcela da população cada vez mais atingida pelos problemas de saúde emocional e mental. Essas questões ocorrem em vários níveis, algumas podem melhorar com atitudes simples, mas outras, de tão graves, podem levar alguém a atentar contra a própria vida. De qualquer forma, é um sofrimento que precisa de atenção. Por isso a terceira matéria do UFPA em Série apresenta uma forma diferenciada de lidar com saúde emocional realizada na UFPA: o Espaço ITEC Cidadão.

Mais conhecidos como “os bosquinhos”, a área de 16.700m² do Espaço ITEC Cidadão funciona como área de convivência entre os alunos, desde 2011. Gina Calzavara, coordenadora e idealizadora desse espaço, conta que ela ficou responsável pelos bosques, quando tinham sido revitalizados, para ser uma cantina e um palco, mas ninguém queria usá-los. Hoje, a área conta com bolsistas e voluntários que atuam na administração e manutenção do Espaço.

Contatos - Por meio de doações de materiais e mobiliários, Gina conseguiu montar um espaço de convivência agradável e em contato direto com a natureza, o que atrai muitos estudantes.

A coordenadora dos bosques sustentáveis considera que uma das coisas que ajudam os estudantes é o contato com a natureza. Muitos desses jovens cresceram em áreas urbanas, com poucos espaços verdes, além de alguns não terem o hábito de reparar em ambientes naturais.

Os bosques são ocupados por espaços voltados para atividades específicas e permitem a interação com a natureza, como o Espaço do Silêncio, a Área de Convívio no Pomar e a Horta Convivência. Além disso, os alunos são bem-vindos para promover atividades no Espaço, como oficinas. Algumas já realizadas foram as oficinas de quadro vivo e de terrário. Gina considera que o contato com a natureza é fundamental para o bem-estar. Como ela diz, “se conectar com a natureza é um investimento em saúde mental. ”

Saúde emocional dos estudantes - No entanto muitos dos alunos que frequentavam os bosques apresentavam problemas emocionais, perceptíveis até para leigos. Alguns estavam em sofrimento ou isolados, e aquela situação não podia ser ignorada.

Em setembro de 2014, foi realizada uma ação de convivência interativa nos bosques, com o objetivo de chamar atenção para o Setembro Amarelo, que é uma campanha de conscientização para a prevenção do suicídio, reunindo 368 pessoas.

O evento e a convivência com os estudantes mostraram que essas ocorrências mereciam mais atenção. Por isso, em novembro de 2014, Gina formalizou um pedido para a Reitoria da Universidade, administrada, na época, pelo professor Carlos Maneschy, sugerindo ações com o objetivo de tratar e prevenir problemas de saúde mental e emocional.

Uma das solicitações foi a capacitação de profissionais da UFPA, não apenas os das áreas de saúde e psicologia, mas também os da comunidade em geral, para que todos saibam a importância da saúde emocional e mental e, com isso, consigam proceder da melhor forma ao presenciar algum transtorno emocional.

Serviços - O Espaço ITEC Cidadão reconhece o mérito do trabalho oferecido pelo Serviço de Apoio Psicossocial aos Discentes (SAPS). O projeto foi criado para atender os discentes da UFPA, buscando seu bem-estar físico e psicossocial. Os estudantes podem ser encaminhados pela Universidade ou ir por iniciativa própria, quando julgarem necessário. O SAPS conta com uma equipe multidisciplinar que faz uma triagem inicial e uma avaliação do que o estudante precisa.

Entre os serviços oferecidos pelo SAPS, estão a grupoterapia, consulta psiquiátrica, terapia individual, de casal e familiar e atendimento pedagógico. “Quando percebemos que o aluno está em sofrimento emocional, nós tentamos ajudar conversando, indicando o SAPS, acionando a família, caso o aluno deseje, e muitos deles melhoram com a convivência nos bosques”, explica Gina.

A temática de saúde mental é importante e precisa ser debatida por todos. Gina reflete que “a vontade de morrer faz parte da natureza humana, mas é preciso buscar as coisas boas da vida, recorrer a seus laços afetivos, reconhecer que precisa de ajuda e procurá-la. Os problemas psicológicos não são apenas da família, mas da sociedade. E nós, da comunidade acadêmica, precisamos fazer mais sobre isso”.

Texto: Ana Paula Castro – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Adolfo Lemos